Uma estrela completa

Foi num distrito do Porto (Portugal), numa casa de terra batida, que Maria do Carmo Miranda da Cunha estreou no mundo, em 1919. E se pode definir como estreia mesmo, pois a menina que dez meses depois desembarca no Rio desde muito cedo mostra a que veio. Vivaz e desembaraçada, canta e declama com desenvoltura e logo se destaca das tantas outras em busca de sucesso. Bem jovem já mostra a persona artística Carmen, apelido dado por um tio. Acrescenta palavras às letras, gesticula, cria figurinos. Exibe graça e espontaneidade. Certa vez, ao cruzar com um grandalhão nos corredores de uma gravadora, pôs a mão na protuberante pança do desconhecido e soltou: “Chope, hein”. O homem era o presidente da companhia. Da Lapa à Broadway, a Pequena Notável hipnotizou multidões. Cantou, atuou, remexeu os quadris, fez caras e bocas. Vanguardista, inquieta, foi uma estrela completa. Muitas cantoras fizeram história, mas nunca houve outra como Carmen.

Viaje pela décadas

Fundo

1909

Em 9 de fevereiro, nasce em Portugal Maria do Carmo Miranda da Cunha. Em dezembro, vem ao Brasil com a família morar no Rio de Janeiro, na Lapa, onde cresce ouvindo a linguagem e a música dos boêmios e da mistura de gente do lugar. É apelidada de Carmen pelo tio. Na Escola Santa Tereza, faz suas primeiras exibições em festas escolares, corais, discursos e declamações. O mercado de entretenimento – o teatro de revista, o cinema e o rádio – aparece no início do século 20. A primeira fábrica de discos no Brasil surge em 1913. O Rádio, em 1922. Em 1927 chegam as eletrolas.

O pai de Carmen José Maria Pinto da Cunha (ao lado) e a mãe, Maria Emília Miranda da Cunha (abaixo)

1925

Carmen larga os estudos e começa a trabalhar como balconista na loja de gravatas e roupas A Principal e, depois, na La Femme Chic, à rua do Ouvidor, onde faz chapéus – aprendizado que a ajudaria na criação de suas célebres vestimentas.

1926

Como outras meninas da sua idade, queria ser artista, estrela de cinema. E consegue participar como figurante no filme A Esposa do Solteiro (A mulher da meia-noite), de Paulo Benedetti. Graças a esse extra, aparece incógnita em uma fotografia na seção de cinema do jornalista Pedro Lima da revista Selecta.

1929

Começa a fazer chapéus sob encomenda e uma de suas clientes, ouvindo-a cantar, faz o convite para uma apresentação no Instituto Nacional de Música. É nessa festa beneficente que atrai a atenção do professor, violonista e compositor baiano Josué de Barros. Ele impulsiona sua carreira. Barros é autor da marchinha de carnaval YáYá YôYô, sucesso na voz de Carmen no carnaval da época. Ela passa a cantar em rádio (Educadora, Sociedade e Mayrink Veiga) e a gravar seus primeiros discos (gravadoras Brunswick e Victor).

O primeiro disco para a Victor traz duas faixas de Josué de Barros, a canção-toada Triste Jandaya e o samba Dona Balbina, em que já aparece a característica de Carmen em modificar a letra em sua interpretação. Para a Brunswick grava o choro Não vá Simbora e Se o Samba é Moda. Josué de Barros, modestamente, declararia em 1955 que a sua biografia poderia ser escrita com três palavras: ‘Eu descobri Carmen.’

1930

“Você tem que me dar seu coração…”, diz o trecho do estrondoso sucesso Para Você Gostar de Mim, que bateu o recorde de 35 mil exemplares vendidos em um mês, logo no início do ano. Mais conhecida como Taí, a marcha-canção é de autoria de Joubert de Carvalho, músico, médico e um dos compositores que iniciaram a popularização do samba entre a classe média.

Josué de Barros descobre o Bando da Lua, que mais tarde acompanharia Carmen, e os leva para a gravadora Brunswick. O conjunto era formado por Oswaldo Éboli, “Vadeco” (pandeiro), Aloysio de Oliveira (violão e solista vocal), Hélio Jordão Pereira (violão), lvo Astolphi (banjo e violão-tenor), e os irmãos Afonso Ozório (ritmo e flautinha), Stênio Ozório (cavaquinho) e Armando Ozório (violão).

Realiza diversas apresentações em festas e teatros, incluindo o Festival Carmen Miranda, no Teatro Lírico. Em setembro, canta na revista musical Vai Dar o que Falar, no Teatro João Caetano. No início da década, moça que cantava em rádio não frequentava a sociedade. O rádio era um mundo masculino. Carmen aparece cada vez mais na mídia, em entrevistas para publicações como Vida Doméstica ou O Globo, para Careta e O Cruzeiro. Numa delas, publicada em 22 de junho, o jornal O Paiz é só elogios para a “a maior cantora brasileira”. Presente na festa do Diário Carioca, como espectadora, é festejada pelo público.

Grava mais de vinte canções, entre tangos, gênero que é um de seus favoritos (Muchachito de mi Amor, de Randoval Montenegro, e Si no me Quieres Más, de C. Nery e Luiz Rubinstein), e sambas, foxtrots, marchas e lundus, de autores como Ary Barroso, Pixinguinha e Joubert de Carvalho.

Carmen Miranda e seu descobridor artístico, Professor Josué de Barros, e seu inseparável amigo violão

1931

Durante um mês apresenta-se com artistas como Francisco Alves e Mário Reis, no Cine Broadway, em Buenos Aires, Argentina.

A carreira fonográfica é um sucesso e Carmen grava com o Grupo do Canhoto, Castro Barbosa, Sylvio Caldas, American Jazz, Grupo da Guarda Velha, Harry Kosarin e seus Almirantes. Carmen brilha.

1932

O samba conquista a preferência do público pelas ondas do rádio. No Brasil, o cinema sonoro passa a levar às telas os ritmos populares, o carnaval e os sucessos do rádio.

Carmen é convidada para o Broadway Cocktail, apresentação de artistas antes da projeção de filmes de Hollywood no Cine-Teatro Broadway. Em seu show, predominam músicas nacionais, incluindo Good Bye, de Assis Valente, que ironiza o uso de expressões em inglês.

Além dos bailes e apresentações para divulgar as músicas de carnaval da gravadora Victor, a cantora faz excursões à Bahia (Teatro Guarani) e a Pernambuco (Teatro Santa Isabel).

Grava marchas e sambas de Francisco Alves, Noel Rosa, Ismael Silva, Assis Valente, Ary Barroso, Cartola e é acompanhada pelo conjunto Diabos do Céu, de Pixinguinha.

Já famosíssima, aparece no documentário O Carnaval Cantado no Rio, de Vital Ramos de Castro

1933

Estreia de A Voz do Carnaval, produção da Cinédia, com direção de Adhemar Gonzaga e Humberto Mauro. No elenco, além de Carmen, Lamartine Babo, Paulo Gonçalves, Palitos e a dupla Jararaca e Ratinho, entre outros.

Aurora Miranda pisa no palco pela primeira vez no Teatro Recreio, com participação da irmã Carmen. Torna-se a primeira cantora a assinar contrato com uma rádio, ganhando 2 contos de reis por mês. A Mayrink Veiga era a emissora mais importante da época. O contrato é atribuído a César Ladeira, que a apelida de Pequena Notável.

Vence o concurso A Nação-Untisal e embarca para Buenos Aires com outros artistas, passando a ser chamada de “Embaixatriz do Samba”.

Carmen grava alguns de seus maiores sucessos: com Mário Reis, o samba Alô, Alô?, de André Filho, e Chegou a Hora da Fogueira, de Lamartine Babo, uma da mais músicas juninas mais famosas de todos os tempos, com acompanhamento dos Diabos do Céu, conjunto de Pixinguinha.

Cena dos bastidores do filme “A Voz do Carnaval” dirigido por Humberto Mauro e Adhemar Gonzaga, da Cinédia

1934

É eleita Rainha do Broadcasting Carioca. Embarca, pelo “Western World”, para Buenos Aires, com Aurora e o Bando da Lua, contratados por Jaime Yankelevisch, da Rádio Belgrano, para temporada de um mês. “Foi um chuá” – comentou Carmencita, como era chamada pelos argentinos.

Estreia em São Paulo, no Sant’Ana, com Aurora Miranda. Paga 1 conto de reis pelo samba Coração, de Synval Silva, e a gravação, com acompanhamento do Grupo do Canhoto, rende ao compositor, em apenas 90 dias, 18 contos de reis. Grava mais de 20 sambas e marchas, entre elas, Isto é lá com Santo Antônio, de Lamartine Babo e Retiro da Saudade, de Antonio Nássara e Noel Rosa, com participação de Francisco Alves. Ambas têm acompanhamento dos Diabos do Céu.

1935

Lançamento do filme Estudantes, produção de Waldow-Cinédia e direção de Wallace Downey, com argumento de João de Barro e Alberto Ribeiro. Além de Carmen e Aurora participam César Ladeira, Barbosa Júnior, Almirante, Jorge Murad, Mário Reis e Bando da Lua, entre outros. No papel de Mimi, canta E Bateu-se a Chapa e Sonho de Papel, clássico que tem como autores Alberto Ribeiro e Braguinha.

Estreia de Alô, Alô Brasil, primeiro filme brasileiro com som direto na película, da mesma equipe de Estudantes. Carmen Miranda canta a marcha de João de Barros que gravara no ano anterior, Primavera no Rio, no encerramento do filme, enquanto Aurora interpreta Cidade Maravilhosa. Grava o samba-choro Tic-tac do Meu Coração, de Alcyr Pires Vermelho e Walfrido Silva, com acompanhamento de Benedicto Lacerda e seu conjunto. A faixa é apresentada aos americanos no filme Minha Secretária Brasileira, de 1942.

Estréia de “Estudantes” no cine Alhambra (à esq.) e homenagem dos Correios ao diretor Adhemar Gonzaga

1936

Estreia de Alô Alô Carnaval, que narra a montagem de uma revista teatral intitulada Banana da Terra. O filme traz a famosa cena em que Carmen e Aurora Miranda interpretam Cantoras do Rádio, vestidas de fraque, cartola e calça de tecido brilhante criadas por Carmen. Com a irmã Aurora, integra o elenco do Cassino da Urca, casa de Joaquim Rolla, palco de atrações nacionais e internacionais no Rio. Ganhava 30 contos de reis por mês.

Estreia na Rádio Tupi, que a tirou da rádio Mayrink Veiga à custa de um contrato de 5 contos de reis mensais, para dois programas semanais de meia hora. Grava, entre outros sucessos, a marcha Balancê, de João de Barro e Alberto Ribeiro, com a Orchestra Odeon e o samba No Taboleiro da Bahiana, de Ary Barroso, com Luiz Barbosa e o Conjunto Regional de Lupércio Miranda.

Ao lado, as irmãs Aurora e Carmen em As Cantoras do Rádio e, abaixo, Carmen com diversos artistas do rádio, entre eles, Mário Reis, de smoking preto, ao fundo.

1937

Onde quer que se apresente, Carmen é sucesso. Vez por outra aparecem rumores de sua ida aos Estados Unidos ou à Inglaterra. Volta à Rádio Mayrink Veiga. Grava, entre outras, de Assis Valente, o samba-choro Camisa Listada e, de Ary Barroso, a marcha indiscreta Eu Dei e o samba Quando eu Penso na Bahia.

1938

Faz amizade com o ator Tyrone Power (A Marca do Zorro, O Capitão do Castelo), que a vê cantar e a indica ao empresário americano Lee Schubert. Espécie de relações públicas informal do Brasil, Carmen presenteia a noiva de Tyrone Power, Annabella, com uma de suas baianas. Isso também aconteceria com a patinadora Sonja Heine e outras celebridades. Grava, de Ary Barroso, os sucessos Boneca de Pixe e Na Baixa do Sapateiro.

Cena do filme “Banana da Terra”, dirigido por Braguinha (1938). Fase de baiana da Pequena Notável que cantou “O que é que a baiana tem?”, de Dorival Caymmi.

1939

Estreia Banana da Terra, da Sonofilmes, com direção e argumento de João de Barro (com Mário Lago), e produção de Wallace Downey. Carmen deveria cantar duas músicas de Ary Barroso: Na Baixa do Sapateiro e Boneca de Piche, mas Barroso é substituído pelo baiano recém-chegado ao Rio Dorival Caymmi, que apresenta sua faixa O que é que a Baiana Tem.

O sucesso de Caymmi ajuda a firmar a imagem de baiana de Carmen, sendo o único número do filme que sobreviveu. Ela já havia aparecido no Teatro Municipal, com Almirante, com o mesmo traje e o mesmo samba do compositor baiano.

Apresentações ovacionadas por 200 mil pessoas no concurso oficial de músicas carnavalescas. Também é aplaudida nas rádios e teatros. No Cassino da Urca, é vista pelo dramaturgo norte-americano Marc Connelly e pela patinadora norueguesa Sonja Henje, de férias no Rio. Já de olho em Carmen, chega ao País o poderoso empresário da Broadway Lee Schubert, a quem foi dito que havia algo especial a ser assistido no Cassino da Urca.
No navio Normandie, Schubert oferece o contrato para a revista Streets of Paris (Ruas de Paris), que ela estreia em maio na Broadway como artista exclusiva da Select Operating Corporation.

Ao saber que o Bando da Lua não seria convidado para ir aos Estados Unidos, a cantora diz que sem eles não vai. Quer uma banda brasileira com ela. O governo brasileiro paga, então, uma parte das passagens e a própria Carmen banca o restante.

A mãe D. Maria Emília Miranda da Cunha e sua irmã Aurora despedindo-se de Carmen, que partia do Uruguai para os Estados Unidos

Grava, com Almirante, Cozinheira Granfina, de Sá Roriz, último registro de Carmen antes de sua ida aos Estados Unidos pela primeira vez. A letra do samba partia de uma notícia sobre os direitos trabalhistas das empregadas domésticas. Carmen fazia a profissional sindicalizada e “louca por cinema”. Despede-se do Brasil com show no Cassino da Urca e é recebida por brasileiros ao chegar, com o Bando da Lua, aos Estados Unidos em 17 de maio, sem saber falar inglês e com um enorme repertório de canções gravadas no Brasil. Mesmo quando aprende o idioma é obrigada a usar nos filmes o sotaque carregado que conquistou a simpatia dos americanos.

A primeira apresentação, em Boston, foi triunfal. Interpretaram O que é que a baiana tem, Touradas em Madri, Bambu, Bambu e South American Way. A plateia gritava seu nome, e o sucesso fez com que a trupe brasileira passasse a encerrar o show
. Estreia em Nova York em 19 de junho no Broadhurst Theatre, com casa lotada e cercada de expectativa. Os jornais do dia seguinte anunciavam o nascimento de uma nova estrela. Passa a ser chamada de Brazilian Bombshell.

Desembarque no porto de Nova York no dia 17 de maio. Foto de Barney Stein, do “New York Post

"Aqui vai uma cartinha contando-te que a tua amiga, segundo jornais, é a grande sensação da Broadway. A minha estreia foi algo indescritível. Eles não entendem patavinas do que eu canto, mas dizem que sou a artista estrangeira mais sensacional que até hoje apareceu aqui", escreve Carmen ao seu querido amigo Almirante. A Marchinha do Grande Gallo, de Lamartine Babo e Paulo Barbosa, e o samba-embolada Bambu, Bambu são as primeiras faixas gravadas na Decca, em Nova York.

Grava a marcha Touradas em Madri, de João de Barro e Alberto Ribeiro, com o Bando da Lua e Garoto nos Estados Unidos. No Brasil a gravação original foi de Almirante, em 1937.

Carmen com a atriz Judy Garland, que foi vê-la no palco da Broadway por cinco vezes’

Meus queridos e saudosos amigos ouvintes do Brasil, boa noite. Os aplausos que eu escuto todas as noites na Broadway parecem-me o eco dos aplausos brasileiros, contentes por ver o sucesso de sua música popular nos Estados Unidos. Novamente digo que eu tudo farei para sempre corresponder à gentileza do público da minha terra. Adeus, Brasil. Até a volta e bye bye.’’

– Pelo rádio, Carmen manda notícias ao Brasil:
Fundo

1940

Estreia de Laranja da China, filmado no ano anterior pela Sonofilmes, com direção, argumento e roteiro de Ruy Costa. É incluído o mesmo número de Carmen do filme Banana da Terra, em que ela canta O Que É Que A Baiana Tem. Trata-se de uma homenagem da direção e produção do filme.

A 20th Century Fox manda a equipe de filmagem para Nova York para tê-la, cantando com o Bando da Lua, no filme Serenata Tropical (Down Argentine Way). É o início da carreira cinematográfica nos Estados Unidos. O filme bateu recordes de bilheteria e estreou em outubro. O repertório incluiu South American Way, Mamãe Eu Quero e Bambu, Bambu.

Apresenta-se numa festa ao presidente Roosevelt na Casa Branca, por motivo de seu sétimo ano de ascensão à presidência.

Retorna ao Brasil em julho, com triunfal acolhida do povo no cais e nas ruas do Rio e apoio oficial. Desfila em carro aberto pela Avenida Rio Branco. Os jornais criticam a recepção.

Recebida friamente em espetáculo de caridade no Cassino da Urca, é acusada de estar americanizada pela elite da sociedade brasileira. Dois meses depois, no mesmo palco, é ovacionada pelos fãs.

Responde às críticas que recebeu no Brasil com a gravação de suas últimas seis músicas no País, entre elas, o samba Disseram Que Voltei Americanizada e o chorinho Disso é que eu Gosto, de Luiz Peixoto e Vicente Paiva; além dos sambas Diz que Tem, de Vicente Paiva com Aníbal Cruz, e O Dengo que a Nega Tem, de Dorival Caymmi.

Enquanto é esnobada pela imprensa, recebe no Brasil um telegrama com um convite da 20th Century Fox para voltar aos Estados Unidos.

O premiado coreógrafo de “My Fair Lady”, Hermes Pan, também fez os números de Carmen Miranda em “Uma noite no Rio

Cartaz de show de Carmen Miranda

1941

Carmen tem a marca de suas mãos e plataformas gravada na Calçada da Fama do Teatro Chinês de Los Angeles. E dá um recado aos brasileiros pelo rádio: “Meus amigos queridos de todo o Brasil. Aqui estou falando a vocês do Chinese Theatre de Hollywood, onde acabo de botar as minhas mãozinhas e os meus pezinhos no cimento. Podem crer que foi um dos momentos mais felizes da minha vida e nesse momento eu juro que pensei em vocês.”

Carmen passa a ser presença constante nos programas de rádio e televisão e nos shows em cassinos, night clubs e teatros americanos. Levaria 14 anos para retornar ao Brasil. Aparece em Uma Noite no Rio (That Night in Rio), refilmagem de Folies Bergère, da Fox, com o Bando da Lua, cantando Chica Chica Boom Chic (com Don Ameche), Cai Cai, I, Yi, Yi, Yi, Yi, (I Like You Very Much), com figurino de Travis Banton e ambientação no Rio de Janeiro.

Outro filme do ano é Aconteceu em Havana (Week-End in Havana), em que ela canta A Week End In Havana, When I Love I Love, Rebola, Bola, e The Ñango. Carmen interpreta a personagem Rosita Rivas.
O famoso foxtrot gravado por Glenn Miller, Chattanooga Choo Choo, ganhador de disco de ouro, tem versão de samba-boogie-woogie e letra em português, gravada por Carmen e o Bando da Lua nos Estados Unidos.

Carmen Miranda imortalizando sua assinatura e eternizando as palmas das mãos e os seus tamancos gravados na calçada da fama do Teatro Chinês, em Hollywood.

“Meus amigos queridos de todo o Brasil. Aqui estou falando a vocês do Chinese Theatre de Hollywood, onde acabo de botar as minhas mãozinhas e os meus pezinhos no cimento. Podem crer que foi um dos momentos mais felizes da minha vida e nesse momento eu juro que pensei em vocês.

1942

Carmen filma Minha Secretária Brasileira (Springtime in the Rockies), que traz o famoso samba de Alcyr Pires Vermelho e Walfrido Silva O Tique-Taque do Meu Coração, além de Chattanooga Choo Choo e Pan American Jubilee (com Betty Grable e John Payne). Carmen interpreta Rosita Murphy.

Em visita ao Rio, Walt Disney, impressionado com a quantidade de piadas de papagaio que os brasileiros contavam, cria o Zé Carioca, que aparece pela primeira vez no filme Alô Brasil, mostrando o País ao Pato Donald e dançando com Aurora Miranda. A Carmen Miranda seria referência em muitos outros desenhos animados, como Baby Puss (Tom e Jerry), que inclui Mamãe eu Quero. Os produtores americanos interferem em seu trabalho, indicando, por exemplo, que ela mantenha o sotaque estrangeiro.

Acima, Carmen no cartaz da nova produção de William LeBaron “Springtime in the Rockies” (Minha secretária brasileira) e baixo, com E. Everett Horton e Charlotte Greenwood em uma cena do filme .

1943

Carmen filma o sucesso de bilheteria Entre a Loura e a Morena (The Gang’s All Here), de Busby Berkley, com o famoso figurino de morangos de Yvonne Wood. Sua personagem Dorita interpreta Aquarela do Brasil, The Lady In The Tutti Frutti Hat, Paducah (com Benny Goodman), You Discover You’re In New York (com Alice Faye) e A Journey To A Star (com todo o elenco).

1944

Carmen filma Quatro Moças Num Jipe (Four in a Jeep), Serenata Boêmia (Greenwich Village) e Alegria Rapazes (Something for the Boys). Em Quatro Moças…, canta I, Yi, Yi, Yi, Yi (I Like You Very Much) e interpreta a si mesma. Em Alegria, musical de Cole Porter, sua personagem Chiquita Hart canta Batuca Nêgo, Samboogie, Wouldn’t It Be Nice? (com Vivian Blaine, Michael O’Shea e Phil Silvers). Em Serenata, a heroína Princesa Querida canta O Que é Que a Baiana Tem, Give Me A Band And A Bandana, Quando Eu Penso Na Bahia, I’m Just Wild About Harry e I Like To Be Loved By You.

Cena do filme “Serenata Boêmia

Em “Alegria, rapazes” Carmen Miranda faz a personagem Chiquita Hart e rouba as cenas de Blossom Hart, e Phil Silvers, o hilariante Harry Hart.

1945

Carmen filma Sonhos de Estrela (Doll Face) em que sua personagem Chita Chula canta Chico-Chico (from Porto Rico).

Regrava Upa! Upa!, marcha de Ary Barroso, cuja gravação original é de Dircinha Batista, de 1939.

Grava nos Estados Unidos o choro Tico-Tico no Fubá, de Zequinha de Abreu, E. Drake e Aloysio de Oliveira, acompanhada por Bando da Lua e Garoto. A composição instrumental, de 1917, já era famosa no exterior.

Pela primeira vez, Carmen cantou descalça a música “Chica, chica boom chic

1946

Carmen filma Se Eu Fosse Feliz (If I’m Lucky) e já é a artista mais bem paga dos Estados Unidos, num tempo em que havia estrelas como Cary Grant e Humphrey Bogart. No filme, como Michelle O’Toole, canta Batucada (com Harry James), Follow The Band (com elenco) e Bet Your Bottom Dollar (com Vivan Blaine).

Carmen Miranda em cena de “Se eu fosse feliz”, com Harry James e Vivian Blaine.

1947

Casa-se em 17 de março com o norte-americano David Sebastian, segundo ela, o único homem que a pediu em casamento. Não tiveram filhos.

Em Copacabana, da United Artists, canta Tico Tico, How To Make A Hit With Fifi, Let’s Do The Copacabana, Je Vous Aime e I Haven’t A Thing To Sell (com Andy Russel). O filme tem Groucho Marx no elenco.

Copacabana é seu primeiro filme depois que rompe o contrato com a 20th Century Fox. Passaria a ser independente, filmando com a United, a Metro Goldwyn Mayer e a Paramount Pictures.

Carmen Miranda, após um rápido namoro com David Sebastian, se casa em 17 de março de 1947, na Igreja do Bom Pastor.

1948

Estreia, no outono, temporada no Teatro Palladium de Londres, com enorme sucesso financeiro e de público. Carmen canta Cuanto Le Gusta, de Gabriel Ruiz e R. Gilbert, com acompanhamento de Vic Shoen Orchestra, no filme O Príncipe Encantado (A Date with Judy), em que faz o papel de Rosita Conchellas, que interpreta também Cooking With Glass e It’s A Most Unusual Day.

O polêmico jornalista e compositor David Nasser, autor de Nega do Cabelo Duro, escreve artigo em O Cruzeiro, romanceando a vida da artista. Publicou outras reportagens que a irritaram, incluindo uma crítica à sua suposta americanização.

O ritmo de trabalho, com vários espetáculos diários e filmagens, esgota a cantora, que passa a usar cada vez mais remédios para dormir ou se manter acordada, prática generalizada e até incentivada na Hollywood da época.

Carmen em cena do filme O príncipe encantado (A Date with Judy).

Fundo

1950

Canta, como Marina Rodrigues, o baião Ca - Room' Pa Pa, de Humberto Teixeira, Luiz Gonzaga e Ray Gilbert, apresentado no filme Romance Carioca, (Nancy Goes to Rio, 1950). No mesmo filme, canta Ypsee-i-o, também acompanhada pelo Bando da Lua.

Sequência do número Yipsee-i-o, com o novo Bando da Lua enriquecido pelos integrantes de Os Anjos do Inferno

O lançamento do filme “Nancy Goes to Rio” (Romance carioca) no Brasil motivou a capa da edição de aniversário do “Jornal das Moças”’

1953

Sua última aparição no cinema é em um número do filme Morrendo de Medo (Scared Stiff), com Dean Martin e Jerry Lewis. Carmelita Castinha, sua personagem, canta The Bongo Bingo / San Domingo e The Enchilada Man.

Carmen excursiona pela Europa e volta ao Teatro Palladium, onde bate seu próprio recorde. Na TV, grava com Jimmy Durante e Cesar Romero para a CBS.

Carmen em “Morrendo de medo” com turbante de apetrechos de cozinha: garfo, pegador de macarrão, palha de aço e batedor de ovos.

1954

Sofrendo pelo excesso de trabalho, tem recomendação médica de voltar ao Brasil para tratar da crise de nervos. A Pequena Notável está dependente de medicamentos.

A irmã Aurora vai a Los Angeles para trazer Carmen de volta ao Brasil, onde desembarca em 3 de dezembro de 1954 depois de 14 anos de ausência.

Por pressão da família, dos amigos e do próprio médico, Carmen desembarcou no Rio de Janeiro em 3 de dezembro de 1954.

Carmen abatida após ser internada por esgotamento físico.

1955

Hóspede do Copacabana Palace, recupera-se do estresse e parte para os Estados Unidos em abril. A maratona de shows recomeça. Além de estrelar programas de TV, apresenta-se nos cassinos de Las Vegas, Buffalo, Reno e Atlantic City. É atração principal do então recém-inagurado Cassino New Frontier, onde cumpre temporada. Apresenta-se no Tropicana, casa noturna de Havana (Cuba), paraíso do jogo no tempo do ditador Fulgêncio Batista. Volta aos Estados Unidos com bronquite. A rede CBS a convida para estrelar o semanal The Carmen Miranda Show, com o amigo Dennis O’Keefe. Aparece no Jimmy Durante Show na noite de 4 de agosto, com roteiro escrito especialmente para “a Carmen Miranda do Brasil”, sendo essa a última vez que se apresenta diante do público. Canta o baião Delicado em português. Carmen dizia que tinha horror de hospitais, que preferia morrer em um acidente fatal ou em um fulminante ataque cardíaco. Em 5 de agosto, de madrugada, morre em Los Angeles, aos 46 anos, de enfarte.

Carmen é velada por 60 mil pessoas, na Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro, e sepultada no dia 13 de agosto no Cemitério de São João Batista. Mais de 500 mil pessoas acompanham o cortejo.

A multidão silenciosa acompanha Carmen, membros da guarda de honra conduzem seu caixão para o velório na Câmara Municipal.

1976

Criado em 1976, o Museu Carmen Miranda de Marco de Canaveses (Portugal), onde ela nasceu, tem 1.560 itens doados pela família da cantora. Roupas, balangandãs, fotos, filmes, sapatos, turbantes, partituras e trajes completos podem ser apreciados. Em 2021, uma reforma de 1,1 milhão de euros revitalizou o espaço.

“A minha estreia (em Nova York) foi algo indescritível. Eles não entendem patavinas do que eu canto, mas dizem que sou a artista estrangeira mais sensacional que até hoje apareceu aqui”,

– Carmem escreve ao seu querido amigo Almirante.